Acabei finalmente de ler a biografia de Hitler. Digo finalmente porque foi preciso tempo e paciência para chegar ao fim destas 600 páginas compactas e polvilhadas de notas. E o conteúdo também não é demasiado atraente. Mas foi bom ter lido.
A autora é alemã e bem fundamentada em fontes seguras; julgo que consegue ser globalmente objectiva. Quem como eu foi contemporâneo dos acontecimentos narrados, não encontra grandes surpresas
Ao cabo 70 anos, a pergunta inevitável é: como foi possível um obscuro Cabo ex-combatente da I Grande Guerra tornar-se o ídolo e o Führer de um povo que pode ostentar o maior número dos prémios Nobel da Europa, os mais importantes compositores e músicos, filósofos, teólogos, biblistas…Acabou por ser o primeiro responsável (e não os judeus, como ele pretendia) da maior tragédia que a Europa conheceu em toda a sua Historia, arrestando na hecatombe, além dos países europeus, a União Soviética e os Estados Unidos da América.
Desde o princípio, nos anos 30 do século XX, Hitler viveu obcecado pela “missão” de fazer da Alemanha, vencida e humilhada, o grande Reino (Reich) dos senhores dominando sobre todos os outros povos que mais ou menos se afastavam da suserania daqueles que foram criados para mandar. Os que mais se aproximavam da raça germânica eram os ingleses e os nórdicos; depois vinham os latinos, os eslavos, os negros e, na cauda da procissão, os judeus, causadores de todas as desgraças. Onde foi ele buscar esta doutrina da hierarquia das raças tendo no topo a raça pura germânica? Talvez com menos rudeza mas, no fundo, com a mesma visão, vários autores o precederam no caminho que levou ao massacre de milhões de judeus, ciganos e cristãos.
Este projecto diabólico não foi apresentado desde o início de modo que se percebesse a lógica que conduzia fatalmente à “solução final”. Por outro lado, o povo alemão estava maduro para acolher um “Messias” que o tirasse da miséria política, económica e social para onde o arrastara a derrota de 1918.
Mais ainda: o Nacional-socialismo veio ao encontro do ideal presente de modo difuso na mentalidade alemã: A grandeza do Reich, a necessidade de um “espaço vital” que fornecesse os recursos que faltavam no território alemão e a convicção louca da superioridade da raça germânica.
Hitler consagrou todas as forças e a própria vida à prossecução deste plano. Usando a táctica da serpente que hipnotiza a presa até ao momento em que já não consegue libertar-se, Hitler hipnotizou. Quando tomou consciência da situação a que fora arrastado, já nada podia a fazer. O Führer usou esta mesma táctica na guerra. Começou por ocupar a Renânia. Não encontrando reacção, ocupou a Áustria, a Checo-Eslováquia, a Polónia. Ainda era premente a necessidade de mantimentos e matérias-primas, então atacou a Rússia.De nada valeram as tímidas objecções dos Generais, incapazes de manter as duas frentes. A solução era demiti-los. O Führer estava possesso de um espírito que o conduziria, contra tudo e todos, à vitória. Não foi só, porém, ao povo alemão que faltou lucidez a tempo de se libertar da mentira habilmente mantida pela propaganda. O Ocidente só tarde compreendeu que a recusa de intervir só servia para o Führer se fortalecer cada vez mais. Podiam ter-se poupado milhões de vidas e as mais horríveis atrocidades praticadas nos campos de morte se a França e a Grã Bretanha tivessem pegado em armas mais cedo. A paz é, sem dúvida um grande bem; o pacifismo, pelo contrário, acaba por tornar-se aliado do louco que lança mão de todos os meios para impor ao mundo o seu falso ideal.
sexta-feira, 30 de maio de 2008
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