sábado, 28 de fevereiro de 2009

Combate

Foi hoje a enterrar um amigo.
Enquanto medito no mistério deste combate em que o inimigo nos atinge todos os dias com suas balas infalíveis, não me sai do pensamento o antigo hino pascal: “A Morte e a Vida travaram um espantoso combate; o comandante da Vida morreu mas ao morrer tornou-se o Rei da Vida”.
Este herói passou metade da vida a bater-se corajosamente contra a morte. Para a nossa curta visão, sucumbiu; mas para o olhar penetrante da fé, que vê com o coração, foi a entrada triunfante na Vida. Mistério pascal vivido conscientemente, ano após ano, até ao esgotamento completo.
Fácil comentário para quem se julga longe da frente. E no entanto todo o cristão se alistou nesta milícia e os mais empenhados querem permanecer ombro com ombro junto do comandante, onde a luta é mais acesa. Os verdadeiros amigos encontram-se lá, prontos a dar a vida por quem a deu primeiro.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Onde estavas Tu, Senhor?

Também a mim Jesus pergunta: “Quem sou Eu para ti? E eu respondo como aprendi: Tu és o Cristo. Jesus aprova, “são palavras inspiradas, não vêm de ti”.
Fico feliz por ter acertado; mas logo começo a resmungar. E aquela criança a vasculhar no lixo para não morrer à fome… e aquela mulher esquelética com um filho morto nos braços… e aquele homem que se acha no direito de maltratar a mulher porque a comprou… Como é possível? No meio de toda esta miséria injusta onde estavas tu, Senhor?

Custa-me a ouvir, porque desta vez Jesus é duro, chama-me tentador, Satanás. É este o seu caminho, não posso querer desviá-lo: Ele fez-se carne, assumindo o que há de mais fraco na pobre natureza humana para elevá-la às alturas da divindade. É Ele que tem fome, que é desprezado, maltratado, morto até. Onde está Ele? – Onde quer que alguém tenha fome ou sede, seja desprezado, maltratado ou morto, é lá que Ele está.

Eu creio, Senhor, mas aumenta a minha minúscula fé.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A propósito de Darwin

Há poucos dias, na SIC, o apresentador da Exposição dedicada a Darwin, na Gulbenkian, teve uma frase lapidar que cito de memória: “Uma vez que conhecemos pela ciência a origem das espécies, já não precisamos de Deus”.
Na verdade esse deus é perfeitamente dispensável. Darwin teve o grande mérito de mostrar que a vida é um todo e que, ao longo do tempo, as espécies vão dando origem a novas espécies até se atingir a vida humana. É verdade que na vida humana há alguma coisa que não depende da evolução – o espírito; e é isso que distingue o ser humano de todos os outros animais. Mas Deus está presente pelo acto criador tanto neste processo evolutivo, como na visão fixista segundo a qual Deus teria criado cada uma das espécies em particular. É assim que está escrito no Livro do Génesis (ou das origens). Mas a Bíblia não é um livro de ciência, é um livro de teologia cujo objectivo é afirmar, nos dois relatos da criação, que tudo quanto existe depende do acto criador de Deus. Utilizando naturalmente os conhecimentos e os métodos do tempo em que foi escrito.
Contrapõe-se por vezes o evolucionismo e o criacionismo. Isso pode acontecer de facto; mas também é possível não haver antagonismo, quando os defensores do “criacionismo” reconhecem a acção criadora de Deus ao longo do processo evolutivo.
Quem professa uma fé esclarecida alegra-se com todos os avanços da ciência. A sua fé não está fundada sobre o modo como as coisas acontecem: interroga-se sobre o porquê dos mesmos acontecimentos. A confusão deriva de não se distinguirem claramente os campos respectivos da fé e da ciência: quando a fé interfere nas conclusões da ciência ou quando a ciência pretende provar a futilidade da fé.