sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Árvores

Para muitos o Outono é uma estação triste. Para mim não. É verdade que a beleza das vinhas, no Douro, e das árvores sugere a agonia antes da morte do Inverno. Afinal trata-se apenas de uma pausa para recuperar novas forças e ressurgir na exuberância da Primavera.

Mesmo no Inverno a natureza não morre; entra no silêncio que é, como na música, o que dá sentido à frase. Como dizia Jesus quando lhe anunciaram a morte do amigo: “Lázaro está a dormir mas eu vou acordá-lo.” Pode dizer-se que é o mistério pascal vivido simbolicamente pela natureza. Como cantava um antiquíssimo poeta para celebrar a Páscoa “A morte e a Vida travaram uma espantosa batalha mas é o contendor derrotado que sai vencedor”.

Um certo cientismo de recém-chegados pretende negar todo o valor a este tipo de linguagem como se apenas fosse válida a expressão científica, objectiva e rigorosa. Contudo os “mitos” das grandes culturas continuam a ser os únicos guias que nos podem ajudar a penetrar no “mistério”. Mistério não é o buraco negro da ausência de conhecimento. É antes o que não cabe na nossa pequena capacidade de conhecer objectivamente.
Também os mitos integrados nas narrativas bíblicas são os que melhor servem para interpretar o sentido da vida, do mal e da morte, da felicidade e do que está para além da morte. Lá estão, no centro do Éden, a árvore da vida e a do conhecimento do bem e do mal. A vida é um dom que nos cabe aceitar e fazer crescer; a felicidade não pode encontrar-se no uso arbitrário da nossa liberdade. Só se pode descobrir na prática de uma fidelidade criativa à nossa realidade de imagens de Deus.

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