“Ninguém entra no céu sem uma carta de recomendação dos pobres”
Desconheço o autor da sentença mas reconheço que ela é certeira e abre campo à inteligência de muitas passagens do Evangelho.
Certo é que Jesus nunca condenou a riqueza, em si, nem os ricos. Mas também é verdade que sublinhou fortemente a dificuldade, acrescida para os ricos, de alcançar o reino de Deus. “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha”. À letra, seria impossível.
Qual será então a razão de tão grande dificuldade em conciliar riqueza e reino de Deus?
Diria que a posse de muitos bens cria uma espécie de muralha que impede o contacto com os diferentes que são os pobres. Para lá dessa muralha não se vê o que incomoda nem se ouve o grito dos infelizes.
O Senhor, pelo contrário, viu, e ouviu o grito do povo escravizado no Egipto. É um Deus próximo particularmente dos que sofrem; não há barreira que o isole, faz-se pobre e pequenino a fim de estar com os pobres e os pequeninos.
O rico criticado pelo Evangelho dificilmente ultrapassa o muro que o isola dos pobres. Poderá dar grandes esmolas mas de longe, não suja as mãos. O seu mundo é o mundo dos iguais que o adulam, lhe mentem com elogios e justificam as suas opções egoístas.
O Salmo é impiedoso: «O homem que vive na opulência e não reflecte é semelhante aos animais que se abatem».
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