domingo, 14 de junho de 2009

Felizes..

Uma das páginas mais conhecidas do Evangelho é, sem dúvida, a das bem-aventuranças que inaugura o célebre sermão do monte.
Todas as oito bem-aventuranças se podem considerar contidas na primeira, uma espécie de síntese de todas elas. E todas podem ser vistas como um retrato de Jesus e, por isso mesmo, o estatuto do discípulo ou seja, do cristão.
Fazer das bem-aventuranças mais uns mandamentos é desvirtuá-las, esvaziá-las do potencial explosivo nelas concentrado.
Felizes os pobres em espírito, os que o são no seu íntimo… e muitas outras traduções do original grego. Melhor: uma atitude, mas talvez ainda seja insuficiente.
Se as bem-aventuranças são o estatuto do discípulo de Jesus, então não devem ser interpretadas apenas como mandamentos nem como conselhos mas como constituindo parte essencial da opção de seguir o Mestre. Ser pobre é, no discurso de Jesus, um traço essencial da figura do Mestre e portanto também do discípulo.
Mas ser pobre como?
Ser desprendido? Sim, mas mais que isso, creio. É assumir livremente as consequências da condição de pobre. O pobre não pode aspirar a ser importante; nunca terá assento nos primeiros lugares; está no mundo para servir, não para ser servido; é o primeiro a ter que emigrar, o primeiro a sofrer com as calamidades naturais ou a violência dos poderosos…
Nada disto é um bem que se procure nem o pobre escolheu a sua condição.
Não é nenhuma felicidade estar privado do uso dos bens que o mundo oferece
(a alguns…). A felicidade verdadeira consiste em estar de tal modo livre em relação a tudo, que se procure acima de tudo o reino de Deus e a sua justiça. Foi assim que o Filho de Deus renunciou à grandeza da condição divina e optou livremente pela condição humana.

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