quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
A Palavra
Num enorme painel publicitário da TMN, pode ler-se a bem escolhida frase de Montaigne: "A palavra está metade naquele que a pronuncia e metade no que a escuta". A sentença está longe de ser banal. A palavra pode ser de circunstância e fútil ou simplesmente utilitária ou de confidência ou expressão de amor autêntico. Por esta ordem, a palavra vai desde nada significar até exprimir o pleno dom da pessoa que ama. Santo Agostinho, mestre na matéria, fala assim: "Se penso no que vou dizer, a palavra já está presente no meu coração; mas se pretendo falar contigo, procuro o modo de fazer chegar ao teu coração aquilo que já está no meu". Mais longe e mais fundo vai S. João, no prólogo do seu evangelho. A Palavra sempre esteve, toda, no coração do Pai; mas foi dita para chegar toda ao coração do homem - a Palavra fez-se carne; permanece no Pai e também naquele que a acolhe na fé. Não metade mas toda inteira. Por outras palavras: o Pai que me ama eternamente, habita em mim pelo amor que me foi dado no Filho. A esse amor chamamos o Espírito Santo.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
É amor?
Creio que todos estaremos de acordo: não há realidade mais maravilhosa que o amor.
O grande poeta Antonio Machado inventou a frase, que parece tão óbvia mas que não deixa de ser constantemente repetida: o caminho faz-se caminhando. E podíamos até generalizar – para tudo é preciso aprender praticando. O amor não é excepção – aprende-se a amar, amando.
Uma cara bonita e um corpo elegante despertam naturalmente um sentimento que pode chegar a uma grande atracção; a sintonia de gostos e sentimentos faz certamente subir de tom a simpatia e talvez a paixão. Ainda não é o amor. O amor verdadeiro não se funda na beleza física ou moral, na atracção mútua, menos ainda em experiências que supõem o amor, quando ele ainda não existe. O amor autêntico existe quando eu me quero dar e quero receber o dom da outra pessoa. Desencontros, desilusões, até infidelidades… não são necessariamente o fim do amor.
Quando Deus quis dizer a que ponto amava o Seu povo tomou como exemplo a vida do profeta Oseias: ele amava a sua mulher sem dúvida possível. Ela porém entregou-se despudoradamente aos amantes. Oseias manteve-se fiel. Fez tudo quanto podia para recuperar o amor da sua juventude. Seduzida, ela voltou e o marido reconstruiu aquela união que parecia desfeita.
Assim é o amor de Deus. Assim é o amor: dom incondicional que não se arrepende nem perante a mais teimosa infidelidade.
O grande poeta Antonio Machado inventou a frase, que parece tão óbvia mas que não deixa de ser constantemente repetida: o caminho faz-se caminhando. E podíamos até generalizar – para tudo é preciso aprender praticando. O amor não é excepção – aprende-se a amar, amando.
Uma cara bonita e um corpo elegante despertam naturalmente um sentimento que pode chegar a uma grande atracção; a sintonia de gostos e sentimentos faz certamente subir de tom a simpatia e talvez a paixão. Ainda não é o amor. O amor verdadeiro não se funda na beleza física ou moral, na atracção mútua, menos ainda em experiências que supõem o amor, quando ele ainda não existe. O amor autêntico existe quando eu me quero dar e quero receber o dom da outra pessoa. Desencontros, desilusões, até infidelidades… não são necessariamente o fim do amor.
Quando Deus quis dizer a que ponto amava o Seu povo tomou como exemplo a vida do profeta Oseias: ele amava a sua mulher sem dúvida possível. Ela porém entregou-se despudoradamente aos amantes. Oseias manteve-se fiel. Fez tudo quanto podia para recuperar o amor da sua juventude. Seduzida, ela voltou e o marido reconstruiu aquela união que parecia desfeita.
Assim é o amor de Deus. Assim é o amor: dom incondicional que não se arrepende nem perante a mais teimosa infidelidade.
domingo, 31 de agosto de 2008
O mistério de Deus
Há quem fique nervoso só à vista deste enunciado... Paciência, ainda não se encontrou melhor linguagem.
Os agnósticos põem-se imediatamente fora da questão ao assumir que nada aceitam que não seja susceptível de experimentação ou de demonstração. Os ateus, esses afirmam que esse Ser que nós chamamos Deus, pura e simplesmente, não existe. Contudo, não apresentam qualquer prova que fundamente tal afirmação.
O mistério não é um enigma, nem pertence ao domínio das chamadas ciências ocultas. Para o crente, mistério é tudo quanto se refere a Deus. Realmente, Deus não cabe no espaço do nosso discurso racional, o que não significa que seja irracional. Tal como na arte ou na poesia, só uma linguagem simbólica abre caminho para a realidade. Sinais, costumamos dizer, que o Criador deixou impressos nas criaturas e muito especialmente no Homem Jesus Cristo que é o grande sinal de Deus, seu Pai. Ao contrário da experiência ou da demonstração, este conhecimento simbólico não força a adesão. É para aqueles que livremente aceitam essa realidade que suavemente toca o seu coração.
Bem diferente é o que inadequadamente se designa por vezes de mistério: o mistério do infinitamente grande ou do infinitamente pequeno. Neste caso, ainda que por agora saibamos relativamente pouco, saberemos cada vez mais à medida que se forem aperfeiçoando técnicas e instrumentos. E não é absurdo pensar que num futuro distante venhamos a saber tudo.
Os agnósticos põem-se imediatamente fora da questão ao assumir que nada aceitam que não seja susceptível de experimentação ou de demonstração. Os ateus, esses afirmam que esse Ser que nós chamamos Deus, pura e simplesmente, não existe. Contudo, não apresentam qualquer prova que fundamente tal afirmação.
O mistério não é um enigma, nem pertence ao domínio das chamadas ciências ocultas. Para o crente, mistério é tudo quanto se refere a Deus. Realmente, Deus não cabe no espaço do nosso discurso racional, o que não significa que seja irracional. Tal como na arte ou na poesia, só uma linguagem simbólica abre caminho para a realidade. Sinais, costumamos dizer, que o Criador deixou impressos nas criaturas e muito especialmente no Homem Jesus Cristo que é o grande sinal de Deus, seu Pai. Ao contrário da experiência ou da demonstração, este conhecimento simbólico não força a adesão. É para aqueles que livremente aceitam essa realidade que suavemente toca o seu coração.
Bem diferente é o que inadequadamente se designa por vezes de mistério: o mistério do infinitamente grande ou do infinitamente pequeno. Neste caso, ainda que por agora saibamos relativamente pouco, saberemos cada vez mais à medida que se forem aperfeiçoando técnicas e instrumentos. E não é absurdo pensar que num futuro distante venhamos a saber tudo.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
S. Bernardo de Claraval
Hoje, dia do grande S. Bernardo, vem a jeito citar o extracto de um seu sermão:
"O amor subsiste por si mesmo. Ele próprio é para si mesmo o mérito e o prémio. O amor não busca outro motivo nem outro fruto fora de si; o seu fruto consiste na sua prática. Amo porque amo; amo para amar. Grande coisa é o amor desde que remonte ao seu princípio, que volte à sua origem, que torne para a sua fonte, que se alimente sempre da nascente donde possa brotar incessantemente."
"O amor subsiste por si mesmo. Ele próprio é para si mesmo o mérito e o prémio. O amor não busca outro motivo nem outro fruto fora de si; o seu fruto consiste na sua prática. Amo porque amo; amo para amar. Grande coisa é o amor desde que remonte ao seu princípio, que volte à sua origem, que torne para a sua fonte, que se alimente sempre da nascente donde possa brotar incessantemente."
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Escravidões
Oficialmente terminou a escravatura. Infelizmente porém ela ainda vigora em muitas regiões do planeta. O motivo, nunca a razão!, reside em se considerar que certos seres não têm direitos: inimigos vencidos, certas raças de indivíduos que não são bem pessoas, doentes, velhos, crianças do sexo feminino. Agora aqui por mais perto já não é bem assim, mas... tudo isso se fez, aos milhões, na culta Alemanha, na santa Rússia e na mais antiga civilização que se conhece - a China. Ainda hoje por toda a parte se pretende impor determinada ideologia; não se promove o sentido crítico, etc. De portas adentro, que se pode esperar de jovens que se limitam, ao longo do secundário e do universitário, a decorar fichas ou sebentas, que copiam sistematicamente e que são bem qualificados quando repetem docilmente o que decoraram ou melhor ainda a voz do mestre. E que mentalidade pode ter quem não lê nem ouve senão bola e mais bola? E que dizer da matança universal de crianças não nascidas? O motivo é o mesmo da antiga escravatura praticada pelos impérios "civilizados" - não são pessoas, não têm alma, portanto não têm direitos.
terça-feira, 24 de junho de 2008
Perder a fé
Perdi a fé… Não é raro ouvir esta declaração, ora com um toque de tristeza, ora com ar de triunfo de alguém que, finalmente, se tornou adulto.
A fé não é um objecto que se perca no autocarro, por exemplo. Se houve verdadeira fé como um acto de confiança que implica mudança radical de orientação da vida, então de duas uma: ou se deixou morrer quando a vida deixou de corresponder ao compromisso inicial; ou se rejeitou numa atitude de revolta contra um Deus que aparentemente foi infiel àquilo que dele se esperava. Ambas as situações acontecem com frequência. Vejamos:
1) A pessoa não tem consciência de ter tomado uma atitude. Parece até que não perdeu nada ou o que perdeu não lhe faz falta. Verifica-se o velho adágio “quem não vive como pensa, acabará por pensar como vive”.
2) Neste caso a pessoa em causa vivia de acordo com a fé que professava. Que aconteceu então? Ainda aqui podemos considerar duas hipóteses
a) Encontrou outro deus mais prático, mais útil. Pode ser algum bem mal adquirido, pode ser o que o Evangelho apelida de “Mamona da iniquidade” (o dinheiro); enfim qualquer relação incompatível com a fé.
b) Mais frequentemente será o resultado de uma desilusão. Perdi um filho num acidente, raptaram a minha filha, uma criança; os milhões de crianças que morrem à fome; os massacres, as violações em massa de mulheres e criança, etc., (um imenso e pavoroso etc.).
O Evangelho de Lucas apresenta o paradigma desta desilusão numa página de extrema beleza e actualidade (Lc cap.24): aqueles dois discípulos eram fiéis discípulos de Jesus e acreditavam firmemente que Ele seria o Messias que salvaria o povo. Afinal, a própria autoridade religiosa condenou-o à morte infame dos escravos. Impossível que fosse o Messias… Foi preciso que o próprio Jesus lhes fizesse ver que tudo estava na lógica de um Deus que tanto amou os homens que se fez um daqueles que são sempre rejeitados pelos bem instalados do mundo. Onde estava Deus em Auschwitz ? – Estava em cada um dos condenados. Onde está Ele no Darfur? – Está em cada criança refugiada que definha à míngua de alimento ou de água.
Sob uma ou outra forma, é inevitável passarmos por esta tentação que consiste sempre na difícil aceitação de um Deus pobre e sem poder, entregue por amor nas mãos dos homens.
A fé não é um objecto que se perca no autocarro, por exemplo. Se houve verdadeira fé como um acto de confiança que implica mudança radical de orientação da vida, então de duas uma: ou se deixou morrer quando a vida deixou de corresponder ao compromisso inicial; ou se rejeitou numa atitude de revolta contra um Deus que aparentemente foi infiel àquilo que dele se esperava. Ambas as situações acontecem com frequência. Vejamos:
1) A pessoa não tem consciência de ter tomado uma atitude. Parece até que não perdeu nada ou o que perdeu não lhe faz falta. Verifica-se o velho adágio “quem não vive como pensa, acabará por pensar como vive”.
2) Neste caso a pessoa em causa vivia de acordo com a fé que professava. Que aconteceu então? Ainda aqui podemos considerar duas hipóteses
a) Encontrou outro deus mais prático, mais útil. Pode ser algum bem mal adquirido, pode ser o que o Evangelho apelida de “Mamona da iniquidade” (o dinheiro); enfim qualquer relação incompatível com a fé.
b) Mais frequentemente será o resultado de uma desilusão. Perdi um filho num acidente, raptaram a minha filha, uma criança; os milhões de crianças que morrem à fome; os massacres, as violações em massa de mulheres e criança, etc., (um imenso e pavoroso etc.).
O Evangelho de Lucas apresenta o paradigma desta desilusão numa página de extrema beleza e actualidade (Lc cap.24): aqueles dois discípulos eram fiéis discípulos de Jesus e acreditavam firmemente que Ele seria o Messias que salvaria o povo. Afinal, a própria autoridade religiosa condenou-o à morte infame dos escravos. Impossível que fosse o Messias… Foi preciso que o próprio Jesus lhes fizesse ver que tudo estava na lógica de um Deus que tanto amou os homens que se fez um daqueles que são sempre rejeitados pelos bem instalados do mundo. Onde estava Deus em Auschwitz ? – Estava em cada um dos condenados. Onde está Ele no Darfur? – Está em cada criança refugiada que definha à míngua de alimento ou de água.
Sob uma ou outra forma, é inevitável passarmos por esta tentação que consiste sempre na difícil aceitação de um Deus pobre e sem poder, entregue por amor nas mãos dos homens.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
Bem-aventurados os pobres
Quando se fala de pobreza evangélica muitos pensam, e não poucos praticam, numa religião de resignação, ensimesmada, um pouco na linha das invectivas de Nietzsche e mais tarde de Marx ao proclamar a religião como “ópio do povo”.
Nada mais contrário à realidade, pelo menos no que respeita a autêntica religião cristã, a do Evangelho.
O Evangelho anunciado por Jesus é uma boa notícia de libertação. O Homem Novo iniciado por Jesus é o Homem livre, liberto do medo, da irresponsabilidade, da falsa religião que coloca os preceitos acima da dignidade humana. “O sábado é feito para o homem e não o homem para o sábado”. Nisto se resume toda a moral cristã: É bom tudo aquilo que ajuda o ser humano a ser mais livre; é mau tudo aquilo que contribui para o escravizar.
Também o Templo é feito para o homem e assim se indica como deve ser o novo culto. Dispensa-se até o templo construído por mãos humanas porque agora Deus habita no coração de cada um dos seus filhos.
Quando Jesus proclama bem-aventurados os pobres, não quer exaltar a condição daqueles que não têm que comer ou que vestir nem casa nem condições de liberdade.
São felizes aqueles que optaram por se libertar da escravidão de todas as coisas, do dinheiro, do poder, da ostentação, da vã glória. Estes, sim que são grandes no reino de Deus.
Já sabemos o que lhes acontece no reino superficial e vazio deste mundo: são uns pobres diabos, uns pobres de espírito. Felizmente a Humanidade não se confina a este reino: também se encontram, sejam embora poucos, os que reconhecem a grandeza de quem escolheu o caminho estreito da liberdade.
Quem faz esta opção de ser pobre não quer que se perpetue o escândalo das centenas de milhões que vivem em condições indignas, dos milhões que morrem de fome, dos sem casa, dos sem pátria. Ao contrário faz tudo o quanto está ao seu alcance para que vá desaparecendo esta nódoa da Humanidade.
Não querem tão pouco que os ricos passem a pobres e os pobres a ricos. Nesse caso nada se resolveria: continuaria o mesmo escândalo apenas protagonizado por actores diferentes. O que querem é que os filhos de Deus vivam realmente como irmãos partilhando, como tais, os bens que receberam, tanto espirituais como materiais.
Nada mais contrário à realidade, pelo menos no que respeita a autêntica religião cristã, a do Evangelho.
O Evangelho anunciado por Jesus é uma boa notícia de libertação. O Homem Novo iniciado por Jesus é o Homem livre, liberto do medo, da irresponsabilidade, da falsa religião que coloca os preceitos acima da dignidade humana. “O sábado é feito para o homem e não o homem para o sábado”. Nisto se resume toda a moral cristã: É bom tudo aquilo que ajuda o ser humano a ser mais livre; é mau tudo aquilo que contribui para o escravizar.
Também o Templo é feito para o homem e assim se indica como deve ser o novo culto. Dispensa-se até o templo construído por mãos humanas porque agora Deus habita no coração de cada um dos seus filhos.
Quando Jesus proclama bem-aventurados os pobres, não quer exaltar a condição daqueles que não têm que comer ou que vestir nem casa nem condições de liberdade.
São felizes aqueles que optaram por se libertar da escravidão de todas as coisas, do dinheiro, do poder, da ostentação, da vã glória. Estes, sim que são grandes no reino de Deus.
Já sabemos o que lhes acontece no reino superficial e vazio deste mundo: são uns pobres diabos, uns pobres de espírito. Felizmente a Humanidade não se confina a este reino: também se encontram, sejam embora poucos, os que reconhecem a grandeza de quem escolheu o caminho estreito da liberdade.
Quem faz esta opção de ser pobre não quer que se perpetue o escândalo das centenas de milhões que vivem em condições indignas, dos milhões que morrem de fome, dos sem casa, dos sem pátria. Ao contrário faz tudo o quanto está ao seu alcance para que vá desaparecendo esta nódoa da Humanidade.
Não querem tão pouco que os ricos passem a pobres e os pobres a ricos. Nesse caso nada se resolveria: continuaria o mesmo escândalo apenas protagonizado por actores diferentes. O que querem é que os filhos de Deus vivam realmente como irmãos partilhando, como tais, os bens que receberam, tanto espirituais como materiais.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Muito perto da meta
Quase no fim da carreira,
eu te bendigo, ó Vida!
porque jamais de ti recebi
esperança que desiludisse
nem trabalho injusto, nem pena que não merecesse.
Porque vejo, ao terminar meu rude caminho,
que eu fui o arquitecto do meu próprio destino.
Se das coisas extraí fel ou mel
foi por nelas ter posto fel ou mel saboroso.
Verdade é que às minhas primaveras seguir-se-á o Inverno,
mas nunca me disseste que Maio fosse eterno.
Não faltaram longas noites de pena
mas tu não prometeste que todas seriam amenas.
Algumas foram até
santamente serenas.
Amei e fui amado, o sol acariciou-me a face!
Vida, nada me deves!
Vida, estamos em paz!
Amado Nervo (traduzido e adaptado)
eu te bendigo, ó Vida!
porque jamais de ti recebi
esperança que desiludisse
nem trabalho injusto, nem pena que não merecesse.
Porque vejo, ao terminar meu rude caminho,
que eu fui o arquitecto do meu próprio destino.
Se das coisas extraí fel ou mel
foi por nelas ter posto fel ou mel saboroso.
Verdade é que às minhas primaveras seguir-se-á o Inverno,
mas nunca me disseste que Maio fosse eterno.
Não faltaram longas noites de pena
mas tu não prometeste que todas seriam amenas.
Algumas foram até
santamente serenas.
Amei e fui amado, o sol acariciou-me a face!
Vida, nada me deves!
Vida, estamos em paz!
Amado Nervo (traduzido e adaptado)
segunda-feira, 9 de junho de 2008
A graça barata
O grande teólogo luterano Dietrich Bonhöffer, condenado a morrer na forca pelos nazis, desenvolveu, num dos seus livros o tema: “a graça barata”.
À primeira leitura podemos pensar que não está inteiramente correcto mas por ser ainda pouco o que se afirma. Então não dizemos, dentro da ortodoxia mais católica, que a graça é dom puramente gratuito de Deus? Não só que é barata mas que é dada de graça? Ora isso sabe-o perfeitamente o Autor citado e, na sua tradição, nunca foi posto em dúvida. O que ele quer dizer é que a graça -a amizade de Deus – não se pode adquirir a preço de saldo. Diria até, que isto se pode afirmar de qualquer amizade verdadeira.
É um bem precioso e, no caso da amizade de Deus, tem um preço superior a todos os outros valores.
No Evangelho a ideia é traduzida por uma bela parábola: - Certo homem descobriu um tesouro em terreno alheio. Voltou a escondê-lo e foi negociar a compra do campo. Necessitou de dar tudo quanto possuía mas ficou feliz por ter alcançado o seu tão desejado tesouro.
Na prática, e é isso que Bonhöffer denuncia, a graça troca-se muitas vezes por qualquer bem. Vale pouco o perdão, vale pouco o sacramento, consegue-se a graça por qualquer preço – uma novena “infalível”, uma Missa, umas Ave Marias. Por isso quase nada se dá para adquiri-la ou para conservá-la, por qualquer bagatela se troca.
É verdade que o preço da graça foi pago super abundantemente por Cristo ao reconciliar a humanidade com Deus. Mas compete a cada um de nós dispormo-nos a recebê-la. Isso implica dar tudo de barato para adquirir esse bem supremo, como fez o homem da parábola.
Pertence a cada um de nós libertar-se de toda a riqueza que cria dependência, como a droga. O que significa tornar-se pobre por Cristo.
Quem ama compreenderá o que isto quer dizer. Para ser capaz de se encher do amor de Deus é necessário esvaziar-se de todos os amores concorrentes.
Não é preciso assustar as pessoas com “profecias” que são ameaças aterradoras. Basta a exigência d Evangelho: “Felizes os que se tornaram pobres por amor de Cristo – é deles o Reino de Deus”.
À primeira leitura podemos pensar que não está inteiramente correcto mas por ser ainda pouco o que se afirma. Então não dizemos, dentro da ortodoxia mais católica, que a graça é dom puramente gratuito de Deus? Não só que é barata mas que é dada de graça? Ora isso sabe-o perfeitamente o Autor citado e, na sua tradição, nunca foi posto em dúvida. O que ele quer dizer é que a graça -a amizade de Deus – não se pode adquirir a preço de saldo. Diria até, que isto se pode afirmar de qualquer amizade verdadeira.
É um bem precioso e, no caso da amizade de Deus, tem um preço superior a todos os outros valores.
No Evangelho a ideia é traduzida por uma bela parábola: - Certo homem descobriu um tesouro em terreno alheio. Voltou a escondê-lo e foi negociar a compra do campo. Necessitou de dar tudo quanto possuía mas ficou feliz por ter alcançado o seu tão desejado tesouro.
Na prática, e é isso que Bonhöffer denuncia, a graça troca-se muitas vezes por qualquer bem. Vale pouco o perdão, vale pouco o sacramento, consegue-se a graça por qualquer preço – uma novena “infalível”, uma Missa, umas Ave Marias. Por isso quase nada se dá para adquiri-la ou para conservá-la, por qualquer bagatela se troca.
É verdade que o preço da graça foi pago super abundantemente por Cristo ao reconciliar a humanidade com Deus. Mas compete a cada um de nós dispormo-nos a recebê-la. Isso implica dar tudo de barato para adquirir esse bem supremo, como fez o homem da parábola.
Pertence a cada um de nós libertar-se de toda a riqueza que cria dependência, como a droga. O que significa tornar-se pobre por Cristo.
Quem ama compreenderá o que isto quer dizer. Para ser capaz de se encher do amor de Deus é necessário esvaziar-se de todos os amores concorrentes.
Não é preciso assustar as pessoas com “profecias” que são ameaças aterradoras. Basta a exigência d Evangelho: “Felizes os que se tornaram pobres por amor de Cristo – é deles o Reino de Deus”.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Estar com Cristo
Chamava-me a atenção aquela catecúmena horas e horas ajoelhada diante do Santíssimo. Caminhava silenciosamente como só aqueles que se habituaram a andar descalços. Aproximava-se do Senhor tanto quanto lhe permitia o respeito devido e ali permanecia, alheia a tudo o que se passava em volta.
Certo dia encontrei-me com ela à saída e começámos a falar. Surgindo a oportunidade perguntei-lhe: “Que fazes tanto tempo junto ao sacrário?” Respondeu sem hesitar como se estivesse de antemão preparada: “Nada”. Nada? Insisti. “Parece-te possível estar tanto tempo sem fazer nada?” Pareceu-me um pouco perturbada e, passado algum tempo, respondeu: “…Estar”.
Nesta única palavra condensou toda a verdade – Basta estar. São horas de intimidade em que nada se pede e nada se dá, está-se, simplesmente.
Poucos são, infelizmente, os que compreendem o valor deste “estar com Cristo” pois isto encerra uma entrega a Cristo sacramentado sem outro objectivo que não seja mesmo “estar”
(Dos escritos do P. Arrupe, S.J.)
Certo dia encontrei-me com ela à saída e começámos a falar. Surgindo a oportunidade perguntei-lhe: “Que fazes tanto tempo junto ao sacrário?” Respondeu sem hesitar como se estivesse de antemão preparada: “Nada”. Nada? Insisti. “Parece-te possível estar tanto tempo sem fazer nada?” Pareceu-me um pouco perturbada e, passado algum tempo, respondeu: “…Estar”.
Nesta única palavra condensou toda a verdade – Basta estar. São horas de intimidade em que nada se pede e nada se dá, está-se, simplesmente.
Poucos são, infelizmente, os que compreendem o valor deste “estar com Cristo” pois isto encerra uma entrega a Cristo sacramentado sem outro objectivo que não seja mesmo “estar”
(Dos escritos do P. Arrupe, S.J.)
Abismo de luz
Interrogado sobre Jesus, Franz Kafka inclinou-se e disse:
"É um abismo de luz. Temos que fechar os olhos para não nos despenharmos".
"É um abismo de luz. Temos que fechar os olhos para não nos despenharmos".
Genésis
Um filme belíssimo. Tal como o título sugere, trata da génese do Universo e em particular da Terra desde os primeiros átomos até ao aparecimento dos Humanos.
A narração é feita, num Francês impecável, por um chefe tribal pertencente a uma das antigas colónias francesas. A beleza dos gestos, a riqueza das comparações e das metáforas revelam o melhor da cultura africana.
Na origem das origens tudo era trevas e vazio. Não se pode dizer quando pois não havia tempo; nem se pode dizer aonde pois não havia espaço. Tudo começou numa nuvem de galáxias. Uma das mais pequenas é a nossa “Via láctea” (a estrada de leite) onde brilha uma minúscula estrela que é o nosso Sol. À volta dele gira a Terra e os demais planetas.
Ao princípio a Terra era uma bola de fogo. Foi arrefecendo graças a um dilúvio de milhões de anos; assim nasceram os rios e os oceanos. Nesta “sopa quente” surgiram os primeiros seres unicelulares. Após uma imensidade de anos surge a improvável Vida em luta contra a corrente que tudo ameaça arrastar para o caos primordial.
Na vida, 1 + 1 = 3. A maneira de fazer aparecer um novo ser vivo é unirem-se dois, num prenúncio longínquo do que viria a ser, entre os Humanos, o amor. Quanto mais perfeitos vão sendo os animais, mais complexo se vai tornando o esquema que se repete em cada caso: sedução – aceitação – união.
O oceano foi o habitat dos primeiros animais. No entanto “a fruta do quintal do vizinho é sempre mais saborosa que a nossa”. Assim a parte seca vai sendo ocupada pelos seres aquáticos que conseguem adaptar-se ao novo ambiente do solo e da atmosfera.
Ao cabo de longuíssima evolução, aparece finalmente a maravilha que é o ser Homem-Mulher. O que não passava de tosco esboço, é agora a livre opção de cada um por se dar e receber a fim de gerar um novo Humano.
Todos somos fruto do amor. É o ápice da luta épica da Vida contra o caos e a desordem. A génese de um ser humano é um resumo da génese universal. O meu habitat começou por ser a água fecunda do seio materno; de uma semelhança de peixe passei, na aparência, a uma espécie de girino; pouco a pouco foram aparecendo, cada vez mais nítidos, a forma e os gestos do Ser Humano que eu era desde o início.
Porém com o fluir do tempo, tudo regressa ao caos primitivo. O que eu sou, era antes uma galáxia de átomos dispersos. De novo voltarei a estar na constituição de uma árvore, uma pedra ou uma nuvem. A canção que eu hoje canto será cantada por outros muitos à sua própria maneira.
Muito belo, sem dúvida, mas… truncado. Todos somos filhos do amor. Mas a totalidade, não será igualmente fruto do amor? Se não nos contentarmos com um acaso inconcebível, não pode deixar de ser. Se alguma coisa existe é porque, primeiro, existe, o AMOR. Este ser que nós chamamos Deus é que tudo colocou na existência sem qualquer motivo que não seja o Amor
A narração é feita, num Francês impecável, por um chefe tribal pertencente a uma das antigas colónias francesas. A beleza dos gestos, a riqueza das comparações e das metáforas revelam o melhor da cultura africana.
Na origem das origens tudo era trevas e vazio. Não se pode dizer quando pois não havia tempo; nem se pode dizer aonde pois não havia espaço. Tudo começou numa nuvem de galáxias. Uma das mais pequenas é a nossa “Via láctea” (a estrada de leite) onde brilha uma minúscula estrela que é o nosso Sol. À volta dele gira a Terra e os demais planetas.
Ao princípio a Terra era uma bola de fogo. Foi arrefecendo graças a um dilúvio de milhões de anos; assim nasceram os rios e os oceanos. Nesta “sopa quente” surgiram os primeiros seres unicelulares. Após uma imensidade de anos surge a improvável Vida em luta contra a corrente que tudo ameaça arrastar para o caos primordial.
Na vida, 1 + 1 = 3. A maneira de fazer aparecer um novo ser vivo é unirem-se dois, num prenúncio longínquo do que viria a ser, entre os Humanos, o amor. Quanto mais perfeitos vão sendo os animais, mais complexo se vai tornando o esquema que se repete em cada caso: sedução – aceitação – união.
O oceano foi o habitat dos primeiros animais. No entanto “a fruta do quintal do vizinho é sempre mais saborosa que a nossa”. Assim a parte seca vai sendo ocupada pelos seres aquáticos que conseguem adaptar-se ao novo ambiente do solo e da atmosfera.
Ao cabo de longuíssima evolução, aparece finalmente a maravilha que é o ser Homem-Mulher. O que não passava de tosco esboço, é agora a livre opção de cada um por se dar e receber a fim de gerar um novo Humano.
Todos somos fruto do amor. É o ápice da luta épica da Vida contra o caos e a desordem. A génese de um ser humano é um resumo da génese universal. O meu habitat começou por ser a água fecunda do seio materno; de uma semelhança de peixe passei, na aparência, a uma espécie de girino; pouco a pouco foram aparecendo, cada vez mais nítidos, a forma e os gestos do Ser Humano que eu era desde o início.
Porém com o fluir do tempo, tudo regressa ao caos primitivo. O que eu sou, era antes uma galáxia de átomos dispersos. De novo voltarei a estar na constituição de uma árvore, uma pedra ou uma nuvem. A canção que eu hoje canto será cantada por outros muitos à sua própria maneira.
Muito belo, sem dúvida, mas… truncado. Todos somos filhos do amor. Mas a totalidade, não será igualmente fruto do amor? Se não nos contentarmos com um acaso inconcebível, não pode deixar de ser. Se alguma coisa existe é porque, primeiro, existe, o AMOR. Este ser que nós chamamos Deus é que tudo colocou na existência sem qualquer motivo que não seja o Amor
domingo, 1 de junho de 2008
Relações sexuais antes do casamento?
Porque não? - Todos o fazem… É o objectivo normal para jovens que se amam … Foi uma das libertações do séc. XX …Era tabu para os católicos …Nem a Igreja nem a Sociedade têm o direito de interferir na vida privada dos indivíduos…Agora já não existe o perigo de a rapariga engravidar…
É o que se ouve por aí, umas vezes com arrogância outras como tímida auto-justificação.
Com o respeito que merecem as pessoas e as suas opiniões, permito-me fazer algumas observações críticas:
1. A moral não pode ser objecto de votação democrática. Ainda que todos o fizessem, não significaria que estava correcto. O bem e o mal não são decretados por maioria nem pela moda nem pelo rótulo de progressista …A moral (ou a ética) está acima de todas essas variáveis e indica-nos o melhor caminho, o caminho da liberdade.
2. O século XX trouxe-nos muitas libertações, é certo. Algumas excelentes, como a independência de povos colonizados, a democracia para nações sujeitas à tirania, o reconhecimento dos direitos fundamentais da pessoa humana, etc. etc.
Trouxe-nos também, infelizmente, o lado perverso de algumas destas libertações. Por exemplo a chamada libertação sexual tem aspectos positivos. Era coisa de que não se falava nem na Igreja nem em família nem na escola; agora fala-se sem complexos (às vezes!) e procura-se que seja tema de educação. Temos que reconhecer, por desgraça, que a edução ministrada nas escolas se limita, quase sempre, ao estudo anatómico e funcional. Falta o mais importante: integração da afectividade e dos impulsos sexuais numa personalidade equilibrada em que a força genésica esteja ao serviço da relação interpessoal.
3. Não se trata portanto de interferência indevida da Igreja e da Sociedade mas que ambas assumam a responsabilidade que lhes cabe, juntamente com a família, na verdadeira educação sexual dos jovens, a educação para a liberdade.
4. É evidente que dois jovens de sexo diferente que se amam, participam cada vez mais da vida um do outro e portanto também da vida sexual que pretendem vir a partilhar plenamente. E há muitos que procuram fazê-lo na perspectiva séria da entrega definitiva no casamento. Certamente que é difícil mas vale o esforço.
Outra coisa é a atracção epidérmica que surge de algum encontro ocasional. Depois de uma festa em que tudo concorre para a excitação e a exploração recíproca do corpo, por que razão não se há-de ir até ao fim, no estilo das telenovelas?
Neste caso, que é feito do amor? Não se atinge sequer o nível da relação sexual dos irracionais, toda ela regulada pelo instinto que impede o descontrolo.
5. Quando o amor é autêntico, cada um deseja o bem do outro e quer ajudá-lo a crescer na liberdade verdadeira, aquela que integra todas as potencialidades do instinto. Não te quero para mim, quero que sejas, cada vez mais, tu mesmo (a). Não há medo nem tabu. Há, sim, o desejo que o outro seja plenamente homem ou mulher.
Que melhor escola para um casamento que não esteja sujeito às vicissitudes do momento? A felicidade não é um direito; é um dever e constrói-se dia a dia.
É o que se ouve por aí, umas vezes com arrogância outras como tímida auto-justificação.
Com o respeito que merecem as pessoas e as suas opiniões, permito-me fazer algumas observações críticas:
1. A moral não pode ser objecto de votação democrática. Ainda que todos o fizessem, não significaria que estava correcto. O bem e o mal não são decretados por maioria nem pela moda nem pelo rótulo de progressista …A moral (ou a ética) está acima de todas essas variáveis e indica-nos o melhor caminho, o caminho da liberdade.
2. O século XX trouxe-nos muitas libertações, é certo. Algumas excelentes, como a independência de povos colonizados, a democracia para nações sujeitas à tirania, o reconhecimento dos direitos fundamentais da pessoa humana, etc. etc.
Trouxe-nos também, infelizmente, o lado perverso de algumas destas libertações. Por exemplo a chamada libertação sexual tem aspectos positivos. Era coisa de que não se falava nem na Igreja nem em família nem na escola; agora fala-se sem complexos (às vezes!) e procura-se que seja tema de educação. Temos que reconhecer, por desgraça, que a edução ministrada nas escolas se limita, quase sempre, ao estudo anatómico e funcional. Falta o mais importante: integração da afectividade e dos impulsos sexuais numa personalidade equilibrada em que a força genésica esteja ao serviço da relação interpessoal.
3. Não se trata portanto de interferência indevida da Igreja e da Sociedade mas que ambas assumam a responsabilidade que lhes cabe, juntamente com a família, na verdadeira educação sexual dos jovens, a educação para a liberdade.
4. É evidente que dois jovens de sexo diferente que se amam, participam cada vez mais da vida um do outro e portanto também da vida sexual que pretendem vir a partilhar plenamente. E há muitos que procuram fazê-lo na perspectiva séria da entrega definitiva no casamento. Certamente que é difícil mas vale o esforço.
Outra coisa é a atracção epidérmica que surge de algum encontro ocasional. Depois de uma festa em que tudo concorre para a excitação e a exploração recíproca do corpo, por que razão não se há-de ir até ao fim, no estilo das telenovelas?
Neste caso, que é feito do amor? Não se atinge sequer o nível da relação sexual dos irracionais, toda ela regulada pelo instinto que impede o descontrolo.
5. Quando o amor é autêntico, cada um deseja o bem do outro e quer ajudá-lo a crescer na liberdade verdadeira, aquela que integra todas as potencialidades do instinto. Não te quero para mim, quero que sejas, cada vez mais, tu mesmo (a). Não há medo nem tabu. Há, sim, o desejo que o outro seja plenamente homem ou mulher.
Que melhor escola para um casamento que não esteja sujeito às vicissitudes do momento? A felicidade não é um direito; é um dever e constrói-se dia a dia.
O tempo comum
Terminou ontem, com a solenidade do Pentecostes, o tempo litúrgico da Páscoa. Cinquenta dias em que se vai pedagogicamente desenvolvendo o Mistério pascal. Depois entramos abruptamente naquele que é chamado o “Tempo ordinário ou comum”. Como o nome indica, não se foca nenhum momento particularmente importante; vamos contemplando pacificamente os ditos e os feitos de Jesus guiados pela interpretação dos quatro evangelistas. É fácil que um tempo sem relevo nos vá achatando a vida, eliminando todo o relevo e transformando-a em monotonia aborrecida. A reforma litúrgica, ordenada pelo Concílio Vaticano II, melhorou muito o ritmo da repetição. Mesmo assim elenco é pouco variado e é isso precisamente que torna as celebrações aborrecidas. Mas a vida é assim.
Quando se é mais novo pensa-se que a ela vai ser uma sucessão de acontecimentos sempre diferentes, como num espectáculo de magia em que nunca se sabe o que vem a seguir. Tratando-se de um filme, ninguém gosta que lhe digam qual é o desfecho; isso tiraria todo o interesse, o suspense. Pensam na profissão futura como se ela fosse uma série de surpresas. Imaginam o trabalho de um “Prémio Nobel” como uma sucessão diária de proezas. Algum deles lembrou que uma descoberta científica era fruto de muito suor e alguma sorte (além da ciência, claro!).
É possível que uma secção importante da sociedade tenha estacionado nesta fase adolescente que conduz a uma quase incapacidade de assumir compromissos duráveis, muito especialmente compromissos para toda a vida. Casamento e votos religiosos ficam como em suspenso, a ver se dá.
A maturidade revela-se quando tais compromissos se encaram como são: para o melhor e para o pior. Claro que um cristão deve contar com uma ajuda que nunca é negada a quem reconhece a sua própria fraqueza.
Uma dificuldade que enfrenta quem quer que assuma um desses compromissos é precisamente o “tempo ordinário” e a sua monotonia. O cinzento do dia-a-dia parece cortar toda a alegria da novidade. Por isso as diversas sociedades sempre valorizaram as festas que funcionam como novos inícios de carreira. Não basta: as festas acabam por se repetir periodicamente e perdem a graça da novidade.
É preciso ter a arte de viver cada dia com a frescura do primeiro. Tentar fazer coisas diferentes cada dia, ou em cada celebração, é ilusório e por vezes caricato. Terrível é, por outro lado, cair na lucidez desencantada do Eclesiastes: Nada de novo debaixo do sol… tudo é ilusão e correr atrás do vento. Para fugir ao cansaço da repetição, cada um tem que renovar-se interiormente. E a melhor ajuda consiste em acolher Aquele que é a própria novidade e faz novas todas as coisas : o Espírito Santo.
Quando se é mais novo pensa-se que a ela vai ser uma sucessão de acontecimentos sempre diferentes, como num espectáculo de magia em que nunca se sabe o que vem a seguir. Tratando-se de um filme, ninguém gosta que lhe digam qual é o desfecho; isso tiraria todo o interesse, o suspense. Pensam na profissão futura como se ela fosse uma série de surpresas. Imaginam o trabalho de um “Prémio Nobel” como uma sucessão diária de proezas. Algum deles lembrou que uma descoberta científica era fruto de muito suor e alguma sorte (além da ciência, claro!).
É possível que uma secção importante da sociedade tenha estacionado nesta fase adolescente que conduz a uma quase incapacidade de assumir compromissos duráveis, muito especialmente compromissos para toda a vida. Casamento e votos religiosos ficam como em suspenso, a ver se dá.
A maturidade revela-se quando tais compromissos se encaram como são: para o melhor e para o pior. Claro que um cristão deve contar com uma ajuda que nunca é negada a quem reconhece a sua própria fraqueza.
Uma dificuldade que enfrenta quem quer que assuma um desses compromissos é precisamente o “tempo ordinário” e a sua monotonia. O cinzento do dia-a-dia parece cortar toda a alegria da novidade. Por isso as diversas sociedades sempre valorizaram as festas que funcionam como novos inícios de carreira. Não basta: as festas acabam por se repetir periodicamente e perdem a graça da novidade.
É preciso ter a arte de viver cada dia com a frescura do primeiro. Tentar fazer coisas diferentes cada dia, ou em cada celebração, é ilusório e por vezes caricato. Terrível é, por outro lado, cair na lucidez desencantada do Eclesiastes: Nada de novo debaixo do sol… tudo é ilusão e correr atrás do vento. Para fugir ao cansaço da repetição, cada um tem que renovar-se interiormente. E a melhor ajuda consiste em acolher Aquele que é a própria novidade e faz novas todas as coisas : o Espírito Santo.
Que testemunho?
A Igreja, Corpo de Cristo (e consequentemente cada um dos seus membros) não existe senão para anunciar ao mundo a Boa Nova da Salvação em Jesus Cristo. Como sabemos, este anúncio começou no próprio dia de Páscoa: “Jesus morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação”. Tal como aconteceu então, também agora o “anúncio” não pode reduzir-se a palavras: essas têm que ser autenticadas por obras de salvação – curar, libertar, consolar, denunciar… Claro que semelhantes atitudes não agradam a quem tem o poder, político ou religioso, como aliás aconteceu com Jesus Por isso este testemunho supõe (no limite) a possibilidade do martírio que é o supremo testemunho e a maior prova de amor.
Em determinadas situações será impossível o testemunho da palavra; o que é sempre possível e obrigatório, por fidelidade à Aliança que Jesus instituiu connosco, é o testemunho da vida.
Que quer isto dizer? - Muitos baptizados entendem (e põem em prática no melhor dos casos) que isso significa ser honesto, sério na profissão, fiel no matrimónio, etc. Mais que isso será para Padres e Freiras…
Isso praticam e às vezes por alto preço, muitos que não conhecem o Evangelho ou nem sequer professam qualquer fé.Então que é? – Muito simplesmente pautar a vida pelo Evangelho e pelas suas (todas) exigências. O Evangelho não se dirige a duas categorias de crentes: uns que se contentam com o 10 e outros que aspiram ao 20. O Evangelho é para todos um apelo à perfeição no amor (seja qual for o caminho seguido por cada qual). Isto implica a recusa de tudo aquilo que se opõe a esta vocação à santidade assim como procurar pôr em prática os meios que a Igreja para tal nos propõe – Palavra de Deus, Oração, Sacramentos. Não é o que nos propõem as ENS, como qualquer dos muitos movimentos da Igreja?
Em determinadas situações será impossível o testemunho da palavra; o que é sempre possível e obrigatório, por fidelidade à Aliança que Jesus instituiu connosco, é o testemunho da vida.
Que quer isto dizer? - Muitos baptizados entendem (e põem em prática no melhor dos casos) que isso significa ser honesto, sério na profissão, fiel no matrimónio, etc. Mais que isso será para Padres e Freiras…
Isso praticam e às vezes por alto preço, muitos que não conhecem o Evangelho ou nem sequer professam qualquer fé.Então que é? – Muito simplesmente pautar a vida pelo Evangelho e pelas suas (todas) exigências. O Evangelho não se dirige a duas categorias de crentes: uns que se contentam com o 10 e outros que aspiram ao 20. O Evangelho é para todos um apelo à perfeição no amor (seja qual for o caminho seguido por cada qual). Isto implica a recusa de tudo aquilo que se opõe a esta vocação à santidade assim como procurar pôr em prática os meios que a Igreja para tal nos propõe – Palavra de Deus, Oração, Sacramentos. Não é o que nos propõem as ENS, como qualquer dos muitos movimentos da Igreja?
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Lições de uma tragédia
Acabei finalmente de ler a biografia de Hitler. Digo finalmente porque foi preciso tempo e paciência para chegar ao fim destas 600 páginas compactas e polvilhadas de notas. E o conteúdo também não é demasiado atraente. Mas foi bom ter lido.
A autora é alemã e bem fundamentada em fontes seguras; julgo que consegue ser globalmente objectiva. Quem como eu foi contemporâneo dos acontecimentos narrados, não encontra grandes surpresas
Ao cabo 70 anos, a pergunta inevitável é: como foi possível um obscuro Cabo ex-combatente da I Grande Guerra tornar-se o ídolo e o Führer de um povo que pode ostentar o maior número dos prémios Nobel da Europa, os mais importantes compositores e músicos, filósofos, teólogos, biblistas…Acabou por ser o primeiro responsável (e não os judeus, como ele pretendia) da maior tragédia que a Europa conheceu em toda a sua Historia, arrestando na hecatombe, além dos países europeus, a União Soviética e os Estados Unidos da América.
Desde o princípio, nos anos 30 do século XX, Hitler viveu obcecado pela “missão” de fazer da Alemanha, vencida e humilhada, o grande Reino (Reich) dos senhores dominando sobre todos os outros povos que mais ou menos se afastavam da suserania daqueles que foram criados para mandar. Os que mais se aproximavam da raça germânica eram os ingleses e os nórdicos; depois vinham os latinos, os eslavos, os negros e, na cauda da procissão, os judeus, causadores de todas as desgraças. Onde foi ele buscar esta doutrina da hierarquia das raças tendo no topo a raça pura germânica? Talvez com menos rudeza mas, no fundo, com a mesma visão, vários autores o precederam no caminho que levou ao massacre de milhões de judeus, ciganos e cristãos.
Este projecto diabólico não foi apresentado desde o início de modo que se percebesse a lógica que conduzia fatalmente à “solução final”. Por outro lado, o povo alemão estava maduro para acolher um “Messias” que o tirasse da miséria política, económica e social para onde o arrastara a derrota de 1918.
Mais ainda: o Nacional-socialismo veio ao encontro do ideal presente de modo difuso na mentalidade alemã: A grandeza do Reich, a necessidade de um “espaço vital” que fornecesse os recursos que faltavam no território alemão e a convicção louca da superioridade da raça germânica.
Hitler consagrou todas as forças e a própria vida à prossecução deste plano. Usando a táctica da serpente que hipnotiza a presa até ao momento em que já não consegue libertar-se, Hitler hipnotizou. Quando tomou consciência da situação a que fora arrastado, já nada podia a fazer. O Führer usou esta mesma táctica na guerra. Começou por ocupar a Renânia. Não encontrando reacção, ocupou a Áustria, a Checo-Eslováquia, a Polónia. Ainda era premente a necessidade de mantimentos e matérias-primas, então atacou a Rússia.De nada valeram as tímidas objecções dos Generais, incapazes de manter as duas frentes. A solução era demiti-los. O Führer estava possesso de um espírito que o conduziria, contra tudo e todos, à vitória. Não foi só, porém, ao povo alemão que faltou lucidez a tempo de se libertar da mentira habilmente mantida pela propaganda. O Ocidente só tarde compreendeu que a recusa de intervir só servia para o Führer se fortalecer cada vez mais. Podiam ter-se poupado milhões de vidas e as mais horríveis atrocidades praticadas nos campos de morte se a França e a Grã Bretanha tivessem pegado em armas mais cedo. A paz é, sem dúvida um grande bem; o pacifismo, pelo contrário, acaba por tornar-se aliado do louco que lança mão de todos os meios para impor ao mundo o seu falso ideal.
A autora é alemã e bem fundamentada em fontes seguras; julgo que consegue ser globalmente objectiva. Quem como eu foi contemporâneo dos acontecimentos narrados, não encontra grandes surpresas
Ao cabo 70 anos, a pergunta inevitável é: como foi possível um obscuro Cabo ex-combatente da I Grande Guerra tornar-se o ídolo e o Führer de um povo que pode ostentar o maior número dos prémios Nobel da Europa, os mais importantes compositores e músicos, filósofos, teólogos, biblistas…Acabou por ser o primeiro responsável (e não os judeus, como ele pretendia) da maior tragédia que a Europa conheceu em toda a sua Historia, arrestando na hecatombe, além dos países europeus, a União Soviética e os Estados Unidos da América.
Desde o princípio, nos anos 30 do século XX, Hitler viveu obcecado pela “missão” de fazer da Alemanha, vencida e humilhada, o grande Reino (Reich) dos senhores dominando sobre todos os outros povos que mais ou menos se afastavam da suserania daqueles que foram criados para mandar. Os que mais se aproximavam da raça germânica eram os ingleses e os nórdicos; depois vinham os latinos, os eslavos, os negros e, na cauda da procissão, os judeus, causadores de todas as desgraças. Onde foi ele buscar esta doutrina da hierarquia das raças tendo no topo a raça pura germânica? Talvez com menos rudeza mas, no fundo, com a mesma visão, vários autores o precederam no caminho que levou ao massacre de milhões de judeus, ciganos e cristãos.
Este projecto diabólico não foi apresentado desde o início de modo que se percebesse a lógica que conduzia fatalmente à “solução final”. Por outro lado, o povo alemão estava maduro para acolher um “Messias” que o tirasse da miséria política, económica e social para onde o arrastara a derrota de 1918.
Mais ainda: o Nacional-socialismo veio ao encontro do ideal presente de modo difuso na mentalidade alemã: A grandeza do Reich, a necessidade de um “espaço vital” que fornecesse os recursos que faltavam no território alemão e a convicção louca da superioridade da raça germânica.
Hitler consagrou todas as forças e a própria vida à prossecução deste plano. Usando a táctica da serpente que hipnotiza a presa até ao momento em que já não consegue libertar-se, Hitler hipnotizou. Quando tomou consciência da situação a que fora arrastado, já nada podia a fazer. O Führer usou esta mesma táctica na guerra. Começou por ocupar a Renânia. Não encontrando reacção, ocupou a Áustria, a Checo-Eslováquia, a Polónia. Ainda era premente a necessidade de mantimentos e matérias-primas, então atacou a Rússia.De nada valeram as tímidas objecções dos Generais, incapazes de manter as duas frentes. A solução era demiti-los. O Führer estava possesso de um espírito que o conduziria, contra tudo e todos, à vitória. Não foi só, porém, ao povo alemão que faltou lucidez a tempo de se libertar da mentira habilmente mantida pela propaganda. O Ocidente só tarde compreendeu que a recusa de intervir só servia para o Führer se fortalecer cada vez mais. Podiam ter-se poupado milhões de vidas e as mais horríveis atrocidades praticadas nos campos de morte se a França e a Grã Bretanha tivessem pegado em armas mais cedo. A paz é, sem dúvida um grande bem; o pacifismo, pelo contrário, acaba por tornar-se aliado do louco que lança mão de todos os meios para impor ao mundo o seu falso ideal.
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